tag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post897887848760777545..comments2022-09-16T10:05:20.884-03:00Comments on Filosofismos, sociologismos e um pouco de achismo: É possível um Estado laico sem uma sociedade laicizada?Raquel Weisshttp://www.blogger.com/profile/04251673955450948651noreply@blogger.comBlogger11125tag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-2633871038916528332010-11-09T20:49:09.279-02:002010-11-09T20:49:09.279-02:00TC, a resposta que escrevi acabou ficando longa e ...TC, a resposta que escrevi acabou ficando longa e não coube na parte dos comentários, por isso acabei escrevendo uma nova postagem, a partir das suas considerações. Um abraço,RaquelRaquel Weisshttps://www.blogger.com/profile/04251673955450948651noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-6627094592325063172010-11-09T17:48:12.824-02:002010-11-09T17:48:12.824-02:00Muito interessante o seu posicionamento. O que me...Muito interessante o seu posicionamento. O que me chama mais a atenção no que nisto toca, é a razoabilidade da dúvida que se apresenta. Se ela existe então qual é o critério que se utiliza para justificar o ato (no caso: o aborto)? Um exercício: o que fazer com um sujeito que está sendo culpado a pena de morte, mas cuja aparente culpa está apenas 99% atestada? Mata-se mesmo assim?<br />Em algum momento vc diz que a afirmação "a prática do aborto representa a negação do ser-próprio da mulher, na medida em que este é ser-próprio é definido como ser para o outro" é questionável. Eu concordo, mas qualquer coisa pode ser posto em dúvida. O que fazemos então? Agarramo-nos em verdades inteligíveis ou nos auto inserimos numa completa subjetividade onde nos é permitido um posso-querer arbitrário? Eu ainda gostaria de conhecer um argumento que não se prendesse aqueles apelos últimos nos quais podemos pôr nossas verdades mais inteligíveis em dúvida. Neste sentido eu pergunto: o que há de questionável na tal afirmação?<br />Não estou aqui para defender o Papa, nesta questão este é um problema para os espanhóis. Mas algo me intrigou neste seu seguinte comentário:<br />"Mas chegar em um país [a espanha] que decidiu livremente, de forma auto-determinada, permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo e condenar essa decisão soberana, pedir que ela seja revogada é um absurdo contra o qual a consciência pública deve mesmo protestar."<br />Mas quem é a opinião pública? São tão somente os feministas e homossexuais? Será mesmo que o número de pessoas que protestaram é tão maior quanto aqueles que lá estavam apoiando o Papa, para então podermos delegar a eles a "voz da opinião pública"? Creio que não, na verdade eu creio que o número dos que protestaram é ínfimo em relação aos que apoiaram. Mas é verdade também que lá o número dos que aderem a esta classe cresce. Será que os espanhóis estão ficando mais cultos? Ou será que esta conversa de "um país que decidiu livremente" é na verdade uma grande balela, e que este país está na verdade entregue a alguma oligarquia de interesses, e, portanto, mal intencionada, que em prol dos próprios interesses, se sobrepõe sobre o interesse do coletivo e o bloqueia, ditando pelos meios possíveis como alguém dito intelectual deve pensar e como um tal deve agir? Ou será que não exista tal coisa?<br /><br />Abraços........TCAnonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-45254846793877354212010-11-09T15:07:45.263-02:002010-11-09T15:07:45.263-02:00Caro TC, obrigada por deixar seu comentário aqui, ...Caro TC, obrigada por deixar seu comentário aqui, fazendo prosseguir o debate. Aliás, quero aproveitar seus comentários para esclarecer alguns pontos do meu texto que talvez não tenham ficado suficientemente claros. Primeiramente, do ponto de vista teórico a partir do qual eu penso o laicismo, este não significa negação da legitimidade da existência das religiões, nem tampouco que seus valores não possam ser livremente expressos. Significa a criação de um espaço no qual a sociedade civil pode se expressar de forma abrangente, sem que os dogmas de qualquer religião pautem o debate e se imponham como verdade absoluta. Talvez expresse melhor minha posição com a referência a um exemplo desta semana, qual seja, a visita do Papa Bento XVI à Espanha. Que o papa pregue aos católicos uma posição contrária ao casamento homossexual, e que peça aos seus fieis que porventura o sejam homossexuais que pratiquem a castidade, é algo perfeitamente compreensível. Inclusive ele tem o direito de exprimir publicamente as razões de sua condenação. Mas chegar em um país que decidiu livremente, de forma auto-determinada, permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo e condenar essa decisão soberana, pedir que ela seja revogada é um absurdo contra o qual a consciência pública deve mesmo protestar. Vejamos o caso específico do meu texto, qual seja, o aborto. Primeiramente, estou de pleno acordo que este não é um tema que seja parte apenas de uma religiosa, ou que só do ponto de vista religioso que se possa discordar da prática do aborto. O que vejo como problemático é quando as justificativas dogmáticas se impõem como verdades absolutas e travam o debate, impondo sua visão de mundo de forma agressiva, com todo tipo de requinte condenatório obscurantista tal como assistimos durante o período eleitoral. E isso teve uma consequência bastante direta, qual seja, empobrecer qualquer futura discussão séria da questão, de modo que seria impossível que qualquer candidato com pretensão de vencer a eleição se manifestasse favorável ao aborto. Daí minha afirmação de que não é possível um Estado plenamente laico sem uma sociedade suficientemente laicizada. Quanto à justificativa filosófica para a condenação ao aborto, concordo, ela é possível e faz sentido. Mas é uma justificativa de um determinado ponto de vista filosófico. Afirmar que a prática do aborto representa a negação do ser-próprio da mulher, na medida em que este é ser-próprio é definido como ser para o outro é algo bastante questionável. Pode representar um ponto de vista metafísico, mas não pode ser dito um ponto de vista da metafísica. Ademais, há a possibilidade de uma abordagem filosófica da questão a partir de outras concepções metafísicas, pós-metafísicas ou simplesmente anti-metafísicas, o que em si não constitui qualquer absurdo. Sem mencionar diversos problemas que são empíricos, mas não demonstráveis, como por exemplo, a questão de se determinar a partir de que momento podemos afirmar que o embrião passa a ser o que chamamos de ser humano, que constitui o indivíduo que é detentor de direitos, como o direito à vida e à liberdade. Enfim, trata-se de uma questão complicadíssima, que pode ser considerada como tudo, menos como uma verdade absoluta. Eu tenho uma posição pessoal favorável à prática do aborto, mas consigo justifica-la apenas até determinado ponto, para além do qual ela é, para mim mesma, apenas a tomada de uma posição. Como não existe em nossa sociedade um consenso em torno dessa questão de modo que ela possa ser tida como uma verdade apenas do ponto de vista de nossa consciência coletiva, o mais razoável que temos a fazer é debater essa questão com a maior seriedade possível, reconhecendo a dificuldade do problema, os elementos que estão em jogo.Raquel Weisshttps://www.blogger.com/profile/04251673955450948651noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-70552701560382448462010-11-09T12:42:15.555-02:002010-11-09T12:42:15.555-02:00Sempre acho muito estranho quando a invocação por ...Sempre acho muito estranho quando a invocação por laicismo implica toque de silêncio para questões ditas religiosas. Estado laico não é democrático? Mas enfim...<br /><br />Não quero andar pelos mesmos passos circenses do atual debate político em relação aos temas religiosos que todos presenciamos com uma certa náusea. A questão tema é a seguinte: por que a questão do aborto seria essencialmente religiosa? Onde é aquele ponto no qual se diz "isto é um decreto divino puramente irracional"? A irracionalidade estaria no fato de não delegar a mulher o direito total ao seu corpo? Mas com um filho no ventre, o seu direito não se limita como convivência de direitos, uma vez que aquele filho também tem direito? Ou o filho não tem direito algum?<br /><br />Realmente eu não creio que o filho esteja isento de direitos. Então a questão levanta-se de forma até simples: a mulher opta pelo aborto simplesmente por que sente a sua própria liberdade em concorrência com a liberdade daquele outro, que é o filho. Aí está o erro; qualquer que seja a noção de liberdade, ela não é choque de liberdades e sim convivência , pois esta é inerente ao homem. Então ao optar pelo aborto, o que se têm, é uma negação desse ser-próprio da mulher que a impele a ser para aquele outro, que é o filho. É um flagrante claro de pretensão que se colide com a realidade, o que figura um absurdo. Então esta opção da mulher é uma escolha que põe a si mesma em colapso, é uma auto destruição metafísica.<br /><br />Como se contrapor a isto? Devemos esquecer a metafísica?<br /><br />Abraços............TCAnonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-45180924529230332402010-10-15T13:24:24.020-03:002010-10-15T13:24:24.020-03:00Samuel, gostei muito do seu artigo, é um dos bons ...Samuel, gostei muito do seu artigo, é um dos bons exemplos de que tipo de argumento deve vir à tona em relação a um tema tão complexo como esse. Você trata as crenças religiosas com muita sensibilidade e, ao mesmo, tem sensibilidade para a gravidade da questão pela qual passam muitas mulheres. Afinal, ninguém aqui está dizendo que as pessoas estão erradas por terem suas religiões, o que queremos é que preconceitos não interfiram no debate racional.Raquel Weisshttps://www.blogger.com/profile/04251673955450948651noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-8703590218717263242010-10-15T13:16:05.766-03:002010-10-15T13:16:05.766-03:00Sobre o tema, aborto, publiquei um artigo em http:...Sobre o tema, aborto, publiquei um artigo em http://www.mulheresdeopiniao.com.br/site/na-mira/eles-falam/347-aborto-por-samuel-marinho<br />que chama as pessoas à reflexão, livre de paixões. Vale a pena ler e refletir.Samuelnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-68547831824494874462010-10-14T11:28:46.719-03:002010-10-14T11:28:46.719-03:00É bem mais simples do que isso. Ambos candidatos n...É bem mais simples do que isso. Ambos candidatos não têm plano de Governo e já deixaram isso bem claro durante os debates do primeiro turno quando somente a Marina apresentou o seu.<br />Debater política sem plano de Governo é a mesma coisa que conversa de butequim, não tem foco. Essa discussão sobre o aborto é pertinente para nossa sociedade mas não deveria estar sob todos estes holofotes nesta eleição. Não adianta pensar em discussão e referendo sobre um assunto tão estigmatizado sem que a sociedade reconheça sua própria hipocrisia, e do meu ponto de vista a decisão sobre a legalização do aborto deveria ser estritamente decidida pelas mulheres.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-5169195283586886062010-10-10T21:52:47.991-03:002010-10-10T21:52:47.991-03:00Na minha percepção, trata-se essencialmente de mai...Na minha percepção, trata-se essencialmente de mais uma das muitas situações em que se evidencia a formação "às avessas" de nossa sociedade. Seguindo a tradição, típica do "terceiro mundo", de incorporar valores,ideais e toda sorte de inovação vindos do "primeiro mundo", a sociedade brasileira tradicionalmente tem feito isso "de atropelo", com adaptações toscas e artificiais que resultam em híbridos de tradicionalismo e modernidade, ou seja, verdadeiras anomalias. Daí que temos liberalismo às avessas, mais recentemente, hegemonia às avessas e, neste caso, da discussão em torno do tema do aborto, o que está manifesto é a nossa modernidade às avessas. Os valores associados às religiões tradicionais parecem coexistir paradoxalmente com os da moderna "religião da humanidade" na nossa sociedade. O que vejo é o paradoxo de uma sacralização do indivíduo,não no sentido racional, como preconiza o individualismo moderno, mas num sentido propriamente cristão. O paradoxo do nosso Estado "laico". Daí que boa parte das pessoas que abominam o Estado fundamentalista islâmico,são as primeiras a defender posições ortodoxas de caráter religioso no que se refere à tantas questões públicas e polêmicas, dentre as quais o aborto é só mais uma. A verdade é que pouco importa se milhares de mulheres morrem em clínicas clandestinas,em hospitais,por falta de assistência médica e abortos mal-feitos.O que importa, para nossa sociedade "defensora da vida", não é o direito à vida, mas antes de tudo, não cometer o pecado de atentar contra vida "que Deus dá".<br />A idéia parece ser: "Que morram as vagabundas pecadoras que atentaram contra a vida de inocentes!"<br />Para além do paradoxo e da hipocrisia,o que temos nessa situação específica, a meu ver, é pura canalhice eleitoreira de uma oposição vazia de propostas que sem ter o que criticar, só resta o desespero de apelar para questões problemáticas envolvendo tradicionalismos ainda não superados e para as mais deslavadas e absurdas mentiras que circulam pelas "correntes" de e-mails na internet.Bruna Nicodemoshttps://www.blogger.com/profile/17709648505337603094noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-60319713369151896732010-10-10T14:15:13.762-03:002010-10-10T14:15:13.762-03:00Pois é... a questão não é que temas polêmicos como...Pois é... a questão não é que temas polêmicos como este não devam ser debatidos. A questão é que sem determinadas premissas laicas não é possível qualquer debate, pois ficamos reféns de fundamentalismos. E, realmente, sem uma educação efetivamente laica, fica difícil progredir, e um obscurantismo moral acaba se convertendo em obscurantismo político, uma vez que se tira a atenção de outras questões que deveriam estar em pauta.Raquel Weisshttps://www.blogger.com/profile/04251673955450948651noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-60248275515838989952010-10-10T00:10:20.408-03:002010-10-10T00:10:20.408-03:00Em geral, as pessoas não distinguem o valor da vid...Em geral, as pessoas não distinguem o valor da vida do valor da qualidade de vida. O primeiro é religioso, o segundo, laico. O primeiro faz com que as pessoas sejam por princípio contra o aborto, a eutanásia e o suicídio, sem se preocupem com os casos e as situações concretas dos indivíduos envolvidos. Já o segundo valor, ao contrário, faz justamente com que se leve em consideração os interesses dessas pessoas para chegar a algum julgamento do que é melhor fazer. <br /><br />Em um Estado laico, as escolas públicas devem procurar enraizar o segundo valor, mas não o primeiro. Se isso fosse feito, distorções eleitorais como essa de agora, baseadas em preconceitos e valores religiosos, não ocorreriamEroshttps://www.blogger.com/profile/15293995700737241819noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6625121236315758497.post-51156294458931925782010-10-06T16:49:05.464-03:002010-10-06T16:49:05.464-03:00Muito boa a sua reflexão, Kel. O Lula, em pronunci...Muito boa a sua reflexão, Kel. O Lula, em pronunciamento na XI Conferência de Direitos Humanos, colocou-se contra o aborto, mas não a favor de sua criminalização. Disse ele tratar se uma questão de saúde pública e que não poderia ser lidado com hipocrisia, pois sabemos quem são as principais vítimas e o seu custo para o SUS. A pergunta que não quer calar: por que antes não se deu esse caloroso debate e ele veio a tona apenas às vésperas da eleição? Para mim, parece uma coisa armada de forma tão maquiavélica que coloca a candidata Dilma em um xeque-mate: se apoia o aborto, perde votos dos religiosos, se não o apoia, perde o das feministas.Adriana Lochenoreply@blogger.com